segunda-feira

Altivo Ovando Júnior

PT achacou empresa para liberar obra, diz ex-petista



O atual secretário da Habitação de Mauá (SP), Altivo Ovando Júnior, disse em depoimento ao Ministério Público do Estado de São Paulo ter presenciado petistas da cúpula do partido exigindo e recebendo propina de um grupo empresarial da cidade para financiar campanhas eleitorais.

O fato, segundo ele, ocorreu em 2000, quando era secretário municipal de Habitação do então prefeito Oswaldo Dias (PT) na cidade da Grande São Paulo.

Altivo há cinco anos é professor de direito na UniABC e voltou a comandar a pasta da Habitação em abril, após convite de Diniz Lopes (PL), presidente da Câmara que administra a cidade do ABC. Segundo o PT, ele seria inimigo político do partido na cidade.

O principal articulador da cobrança, de acordo com ele, era o dirigente petista Valdemir Garreta, que nega. Garreta era então coordenador de comunicação da campanha de Marta Suplicy (PT) à prefeitura da capital. Após a vitória do PT, assumiu a pasta da Comunicação.

Em depoimento ao Ministério Público em fevereiro deste ano, o secretário de Mauá cita ainda o deputado federal José Mentor (SP), ex-relator da CPI do Banestado, como um dos emissários do PT, à época presidido pelo ex-ministro e também deputado federal José Dirceu.

Mentor, tido como um dos petistas mais próximos de Dirceu em São Paulo, foi líder do governo Marta na Câmara paulistana.

O alvo do achaque, segundo Altivo, foi o grupo empresarial Peralta Investimentos e Participações Ltda., rede especializada em lojas de supermercados. A empresa também nega.

Altivo afirmou aos promotores que o dinheiro deveria ser destinado à campanha de Marta Suplicy e à de Oswaldo Dias, que tentava um segundo mandato. Os dois acabariam eleitos em 2000.

Alvo

À época, o grupo Peralta tinha interesse na construção de um shopping na cidade e, para isso, contava com a contrapartida da Prefeitura de Mauá para a desapropriação de áreas, o investimento em infra-estrutura e a concessão de isenção de impostos.

Altivo disse que, ao saber do interesse da empresa, Garreta e Mentor pediram uma reunião com o então presidente do grupo, Armando Jorge Peralta.

Nesse encontro, disse o secretário de Mauá, Garreta teria afirmado: "Se não der dinheiro, não vai ter shopping". Altivo disse ainda que Garreta "exigiu" do empresário do grupo Peralta R$ 1,8 milhão para o financiamento das duas campanhas petistas.

Peralta teria concordado em pagar o valor em seis parcelas, mas disse que precisaria de comprovantes para prestar contas junto a seus sócios. A forma encontrada por Mentor, afirmou Altivo, foi a emissão de notas frias.

Papéis

Dois documentos foram repassados ao Ministério Público como indícios do pagamento de pelo menos uma parcela de R$ 300 mil. Ambos teriam sido entregues ao empresário para que ele justificasse a saída do dinheiro do grupo.

O primeiro deles é o recibo número 2557 da série P emitido pela Direção Nacional do PT, em 7 de novembro de 2000, e dirigido à empresa "Peralta Invest. e Participações". O valor de R$ 48 mil foi registrado como contribuição social e declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em prestação de contas assinada pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

O segundo documento que comprovaria o pagamento e que completaria os R$ 300 mil é a nota fiscal 057, no valor de R$ 252 mil. A nota foi emitida pela Flash Comunicação, de Mato Grosso do Sul, em novembro de 2000.

Na descrição dos serviços, está escrito: "Produção, direção e finalização de 01 audiovisual institucional de 3 min."

O "cliente" que consta na nota é a Brasterra Empreendimentos Imobiliários, empresa do grupo Peralta. No entanto, um dos sócios do grupo, Fernando Jorge Peralta, disse ao Ministério Público que o documento é "apócrifo" e que o vídeo nunca existiu.

A Flash possui ligação com o governo de Zeca do PT no Mato Grosso do Sul e apresentou uma declaração à Justiça segundo a qual teria realizado supostos serviços de propaganda para as campanhas de Marta Suplicy.

Com o documento, a empresa auxiliou o PT a "fechar" a contabilidade da campanha da petista ao governo do Estado em 1998.

Uma outra parte da propina, disse o secretário, foi repassada ao partido em dinheiro. Altivo conta que, "mesmo contra sua vontade", foi diretamente à sede do grupo Peralta, na cidade de Osasco, e recebeu os R$ 300 mil em dinheiro, dentro de uma caixa de papelão para arquivo, "devidamente lacrada".

Depois da segunda parcela, o secretário conta ter sido afastado da negociação. Teria sido substituído pelo então secretário de Desenvolvimento Econômico, Paulo Eugênio, tesoureiro do Diretório Municipal do PT em Mauá.

Fonte: JOSÉ ALBERTO BOMBIG e LILIAN CHRISTOFOLETTI da Folha de S. Paulo

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Plinio Arruda Sampaio


Para o advogado, na raiz da crise que ameaça o PT, está uma escolha equivocada pelas campanhas milionárias, distantes do povo, definidas por marqueteiros. Uma opção tomada pela cúpula do partido que mostra desvios ideológicos. "Já temos um bom número de dirigentes, parlamentares, representantes que não acredita mais na transformação socialista", explica. A saída desse beco em que o PT se encontra não é fácil e passaria, assim, por uma revisão das distorções que levaram o partido a essa situação. Nesse novo caminho, para Sampaio, o PT deve se reencontrar com a militância. "É preciso voltar ao núcleo de base e exigir as consultas à base", aponta o candidato.

Para Plinio Arruda Sampaio a crise do PT não vem de agora, mas sim desde 1995, quando o PT deixou de lado a pressão popular e se concentrou em montar uma máquina eleitoral. Em 1998, o partido fez a opção pela eleição do marketing, contratou um especialista na área para fazer a eleição. Ora, essa escolha foi catastrófica, um desastre. Você não faz eleição do marketing sem muito dinheiro, essas companhias cobram um enormidade para trabalhar. Então, você acaba tendo de recorrer a quem tem dinheiro. E quem tem dinheiro nesse país? Banqueiros, empresários, especuladores... E o PT foi bater na porta dessa gente, os Valérios da vida. Mas isso ainda não é o mais grave. O mais grave é o seguinte: o PT fez uma campanha que não politizava o povo. O povo brasileiro sempre acha que é preciso um poderoso lá em cima que lhe dê as coisas. O povo brasileiro não foi conscientizado de que precisa conquistar as coisas, de que precisa lutar. Porque não é um príncipe bom, nem um operário bom, nem um patrão bom que vai lhe atender. É preciso ter o preço da conquista. Com o maqueteiro, você não diz isso. O princípio dele é que você não pode falar para o povo aquilo que ele não quer ouvir. Então, você está enganando o povo. É preciso dizer o que é importante.

Nilton Viana e Jorge Pereira Filho - da Redação do Jornal Brasil de Fato - Edição 127
http://www.ivanvalente.com.br/CN02/entrevistas/entr_det.asp?id=373