segunda-feira

BRINDEMOS HONDURAS, O PAÍS QUE VENCEU CHÁVEZ E TIPOS COMO AMORIM, GARCIA E INSULZA

Por Reinaldo Azevedo

Um brinde também a nós, bravos! Sozinhos, sim, por um longo tempo. Mas convenham, dada a realidade de então, quem precisava de companhia?

Cinco meses sob uma pressão que ouso dizer inédita em tempos modernos, e Honduras deu a volta por cima e realizou eleições limpas e transparentes, endossadas por centenas de observadores internacionais. A democracia vence no país, apesar do governo brasileiro — que hoje lidera, com mais estridência do que Hugo Chávez, os protestos delinqüentes contra a vontade inequívoca das urnas e das instituições. “Manuel Zelaya também foi eleito!”, grita o petralha, ousando tirar do chão os membros dianteiros. Mas tentou fraudar a Constituição, a exemplo do que fazem os bolivarianos e amigos. E foi posto pra fora. Honduras recusou o chavismo. Que as instituições fiquem atentas porque a canalha não vai sossegar.

Até quando escrevo este post, com mais de 60% dos votos apurados, Porfírio Lobo (foto) , do Partido Nacional, liderava com 55,9% dos votos; já é o virtual presidente eleito. As eleições transcorreram numa clima de calma. Em San Pedro Sula, cerca de mil zelaystas entraram em confronto com a polícia, o que não altera o clima geral da eleição. Para quem prometia guerra civil…

Sim, leitores, cinco meses durou uma farsa de dimensões verdadeiramente planetárias contra aquele pequeno país. Vocês conheceram cada passo dessa história, nos mais de 130 posts deste escriba a respeito. Nem as nações mais delinqüentes da Terra — cujos governos financiam o terrorismo, matam por empresa, esfolam os adversários, calam a Justiça, fecham o Congresso, ameaçam outros países — foram alvo da pressão que se abateu sobre Honduras. E tudo assentado numa mentira básica, essencial, escandalosa, que procurava negar que a deposição de Zelaya tivesse sido constitucional, legal, democrática. Já está provado hoje, evidenciado pela ONG Human Rights Foundation, que a Organização dos Estados Americanos, presidida por José Miguel Insulza, era uma espécie de co-patrocinadora do golpe que Zelaya pretendia dar no país.

Mas Honduras venceu, realizando eleições limpas e respeitando a Constituição, o exato oposto do que fazem vândalos da democracia como Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales. Honduras venceu e expôs de modo dramático, vexatório, escancarado, a ruindade da diplomacia brasileira e a vigarice de sua política externa. Nas várias declarações que deram a respeito, autoridades do Brasil trataram Honduras como um não-país, como um quintal de suas ambições ridiculamente subimperialistas. E agora o megalonanico Celso Amorim resta com um Manuel Zelaya na mão e palavras indecorosas voando por aí. Não custa lembrar que o tal Ruy Casaes, embaixador do Brasil no OEA, chamou o presidente legal de Honduras de “palhaço” — termo que, na diplomacia, não se dispensa nem a inimigos.

O emblema da bufonaria brasileira foi receber um bandido internacional como Ahmadinejad, que tem um ministro diretamente envolvido com um atentado terrorista ocorrido na vizinha Argentina, enquanto atacava a solução democrática encaminhada em Honduras. Isso diz muito dessa gente que está no poder e deixa claro com quem estamos lidando.

As Fadas Sininho de Lula, devidamente pautadas pelo jornalismo franklinstein, agora antevêem uma lenta mudança de posição do Brasil e são capazes de escrever que o Brasil perdeu, sim, mas teria sido uma perda que depõe a seu favor, que honra seu apego à democracia. Não é o caso mesmo de esperar pudor dessa gente — por que o teriam agora? Não! O governo brasileiro perdeu porque a democracia ganhou. O governo brasileiro perdeu porque se alinhou com um notório golpista, que agia contra a Constituição, e os democratas venceram. Não há matizes nem lado positivo na opção feita pelo Itamaraty. A escolha, como Ruy Casaes deixou claro numa entrevista, era mesmo de natureza ideológica.

Zelaya, segundo a imprensa hondurenha, pode pedir asilo na Nicarágua. Talvez se junte a outro golpista, o orelhudo Daniel Ortega, e tente, de lá, desestabilizar a democracia de Honduras. Chávez também não vai se conformar. E cumpre ficar atento ao comportamento do Brasil. Na surdina, como vimos, o país se meteu na conspirata que instalou o maluco Manuel Zelaya na embaixada. Não tenham qualquer receio de esperar o pior de Amorim e seus aloprados.

Por enquanto, façamos um brinde simbólico à democracia. Honduras venceu Hugo Chávez e a diplomacia megalonanica. E, por que não?, brindo também a saúde mental e moral deste blog — o inmcluo vocês, os leitores, nesta sanidade. Folgo em saber que jamais, mesmo quando tudo parecia perdido, abstivemo-nos de dizer a coisa certa.

Um brinde também a nós, bravos! Sozinhos, sim, por um longo tempo. Mas convenham, dada a realidade de então, quem precisava de companhia?

sábado

'Washington Post' critica Lula por ter recebido o presidente do Irã


Segundo o "Post", se o Brasil quer ter influência mundial tem que decidir entre "apoiar pares como Ahmadinejad ou tentar se posicionar no ocidente democrático (...) e assegurar-se de que continua sendo o país do futuro


Da EFE, em Washington

O Brasil estendeu um "tapete vermelho" ao regime iraniano, segundo o jornal "Washington Post", que critica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um editorial sobre a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao país.

"Na segunda-feira passada, Lula literalmente deu um abraço de urso no presidente iraniano, com o qual constatou o maior avanço em seu esforço por escorar sua duvidosa situação nacional e internacional", diz o editorial.

Segundo o "Post", a administração do presidente americano, Barack Obama, da mesma forma que a de seu antecessor George W. Bush, vê o Brasil como uma "superpotência emergente cujo dinamismo econômico e democracia "relativamente estáveis" fazem do país um "aliado natural" dos EUA.

No entanto, segundo o jornal, o potencial do Brasil "é sobreestimado frequentemente" e parece que "sempre será o país do futuro".

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, discursa diante do Parlamento, em Teerã, em 15 de novembro. (Foto: AFP)

O jornal critica as "calorosas boas-vindas" do presidente a Ahmadinejad, em um momento em que "inclusive a Rússia discute publicamente novas sanções contra Teerã", enquanto "o governo brasileiro assinou 13 acordos de cooperação com o regime" iraniano.

Além disso, lamenta que Lula "não tenha algo a dizer sobre a sangrenta repressão dos movimentos iranianos pró-democráticos ou a negação de Ahmadinejad sobre o Holocausto e o direito de existir de Israel".

No entanto, Lula "declarou que o Irã tem o direito de ter seu programa nuclear".

"Ahmadinejad, outra vez, apoiou o Brasil para conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU", uma velha aspiração do país, segundo o jornal.

Os defensores de Lula, segundo o "Washington Post", afirmam que o presidente convidou o líder iraniano porque "quer mediar no conflito do Oriente Médio". Mas se assim for, acrescenta, o líder brasileiro "simplesmente demonstraria sua ignorância na região".

"O apoio de Lula a Ahmadinejad não mudará o fanatismo (do líder iraniano), mas o tornará mais forte. O que assegurará que qualquer tentativa do Brasil de mediar no Oriente Médio será rejeitada por Israel e pelos principais países árabes".

O jornal qualifica de "patética" a viagem internacional de Ahmadinejad, que o levou a Gâmbia e Senegal, na África, além de Venezuela, Bolívia e Brasil.

"A viagem de Ahmadinejad foi patética e serviu para ressaltar seu crescente isolamento, se não fosse pelas calorosas boas-vindas do Brasil", diz o jornal.

Segundo o "Post", se o Brasil quer ter influência mundial tem que decidir entre "apoiar pares como Ahmadinejad ou tentar se posicionar no ocidente democrático (...) e assegurar-se de que continua sendo o país do futuro



Agência nuclear da ONU aprova resolução que condena o Irã

Texto foi aprovado por 25 entre 35 países, e o Brasil se absteve. Documento pede que Teerã suspenda já a construção da usina de Qom.

domingo

O “Fora Ahmadinejad” hoje, no Rio

sexta-feira


Para onde vamos?, por Fernando Henrique Cardoso*

A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio “talvez” porque alguns estão de tal modo inebriados com “o maior espetáculo da terra”, de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?

Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.

É possível escolher ao acaso os exemplos de “pequenos assassinatos”. Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira “nacionalista”, pois se o sistema atual, de concessões, fosse “entreguista” deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?

Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do “autoritarismo popular” vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os “projetos de impacto” (alguns dos quais viraram “esqueletos”, quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: “Minha casa, minha vida”; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.

Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo “Brasil potência”. Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar “l’État c’est moi”. Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender “nosso pré-sal”. Está bem, tudo muito lógico.

Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no “dedaço” que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são “estrelas novas”. Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.

Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou “privatizadas”. Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.

*Ex-presidente da República
Fonte: Zero Hora