Certamente há quem acredite que devemos, em nome dos nossos princípios, ter com aqueles que nos querem destruir a tolerância que eles, em nome dos princípios deles, não têm com a gente. O resultado dessa equação é que os que odeiam a democracia ganham sempre. De resto, Dirceu conta com uma equipe, certamente paga com o que ele consegue amealhar como “consultor de empresa privada”, para produzir um site. O chato, para ele, é que ninguém lê aquela porcaria, a não ser a rede petista infiltrada na “mídia”, que, invariavelmente, se encarrega de reproduzir coisas que são escritas lá.
Dirceu odeia a imprensa — menos a que fala bem do PT, é claro — e tem seu próprio canal para escoar o lixo intelectual que produz. O que justifica que ocupe também um lugar no mundo dos vivos? Posto isso, faço um vermelho-e-azul com o artigo que ele publicou hoje na Folha.
O PROFESSOR da USP José Augusto Guilhon Albuquerque escreveu nesta Folha (9/12) crítica à visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Disse ter ficado confuso quanto ao que é paz e o que é desejável e, em exercício inaceitável de distorção dos fatos, afirma que houve cumplicidade brasileira com as atrocidades cometidas pelo governo iraniano. Primeiramente, o professor omite que o iraniano foi recebido após as visitas dos presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
A estupidez está dada já nas primeiras linhas. Peres e Abbas não são compensações à presença de Ahmadinejad no Brasil. Mas pensemos um pouco com a cabeça marota de Dirceu: digamos que fossem. Dado que o petista, como se verá, é claramente simpático à causa iraniana, entende-se que Peres — e talvez até Abbas — sejam, vejam que formidável, o “Mal” que serve de contrapeso ao “Bem”. Assim, Lula teria feito uma concessão, recebendo gente não muito decente, como os líderes israelense e palestino, para depois abrir os braços a este gigante moral que é o presidente do Irã. Tenho de notar à margem que Abbas tem em Ahmadinejad um de seus maiores inimigos: o Irã financia os terroristas do Hamas.
Quer dizer que o professor acha ruim receber Ahmadinejad, mas nada tem contra a recepção a Peres, presidente de um país que seguidamente viola as resoluções da Organização das Nações Unidas e cujo governo é responsável, pela via da força, por negar seguidamente ao povo palestino o direito de ter seu próprio país?
Dou de barato que Dirceu ignore as seguidas resoluções da ONU contra o Irã, com a diferença de que o fórum que costuma “condenar” Israel é o Conselho de Direitos Humanos, coalhado de “antiimperialistas” e anti-semitas militantes. O que realmente é formidável é a afirmação, sem quaisquer outras considerações, de que Israel nega ao povo palestino o direito a seu próprio país. Como se sabe, os pacíficos palestinos querem um país, negado por beligerantes judeus. Por que Dirceu não pergunta ao próprio Abbas o que ele pensa da “luta” do Hamas? Em segundo lugar, o que a causa palestina tem a ver com Ahmadinejad? Tivessem os palestinos o seu estado, seria outra a política do Irã?
Mas o ardil de Albuquerque veio acompanhado da ausência de leitura da cobertura que a Folha fez do encontro com o iraniano. No caderno Mundo (24/11), somos informados de que Lula “aproveitou a presença de Ahmadinejad para transmitir cobranças quase unânimes da comunidade diplomática”, deixando “claro que repudia a hostilidade aberta de Ahmadinejad a Israel” e que “o Brasil, embora busque os melhores vínculos possíveis com o Irã, tem ressalvas em relação a algumas posições do iraniano”. O jornal publicou ainda as seguintes frases do presidente Lula: “A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade. Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha de nossos cidadãos e cidadãs com a mesma veemência com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo” e “Defendemos o direito do povo palestino a um Estado viável e a uma vida digna, ao lado de um Estado de Israel seguro e soberano”.
As frases que Dirceu tão bem selecionou para indicar a suposta contraposição do governo brasileiro a Ahmadinjad deixam, então, claro que aquele senhor não respeita a democracia, a diversidade e a tolerância. Mais: deixam claro que, com efeito, ele recorre ao terrorismo.
Isso não importa, não é mesmo, professor? Afinal, a política externa que o sr. defende é a adotada no governo Fernando Henrique Cardoso, que desejava uma ordem unipolar, com os EUA dando as cartas. O professor não se incomoda com essa concepção de política externa nem com a invasão do Iraque sem autorização da ONU ou com os centros de tortura americanos mundo afora. Não há limites à hipocrisia, professor? A cumplicidade com essa submissão é que é inaceitável.
Aqui, a delinqüência intelectual de sempre com o governo ao qual os petistas devem, na prática, a sua própria existência por razões tantas vezes elencadas. A ordem multipolar petista compreende o apoio a um terrorista como Ahmadinejad, a proteção ao genocida do Sudão, o apoio a todas as transgressões à ordem democrática dos bolivarianos, o flerte com os narcoterroristas das Farc. Os EUA e aliados atacaram o Iraque em março de 2003. Lula já era presidente da República — logo, o governo anterior, de FHC, não pôde se pronunciar a respeito daquele fato em si e de outros que dele decorreram, como as acusações de tortura. As ilações de Dirceu são descabidas porque mentirosas.
A diretriz do governo Lula para a política externa é, reconhecidamente, responsável pelo papel de destaque no mundo que o Brasil conquistou.
É mentira! Essa política externa que apóia tudo quanto é bandido mundo afora não trouxe um centavo para o Brasil. A boa posição que o país ocupa na economia mundial nada deve à política externa. Desafio Dirceu a provar com números. Ele não vai porque sabe que se trata de uma clamorosa, vergonhosa e absoluta MENTIRA!
Ela se pauta, entre outros fatores, pela compreensão de que nossos interesses nacionais serão tão mais ressonantes quanto maior for o caráter multipolar da nova ordem internacional. E esse caminho passa por integrar os países em desenvolvimento e seus blocos regionais e por construir novas pontes diplomáticas.
Embromação disfarçada de retórica integracionista. O Irã não integra “bloco” nenhum — ou ele diga qual é. Nem os países árabes vêem com bons olhos a hipertrofia dos seus , no mais das vezes, inimigos persas do xiismo. O único bloco que o Irã integra é o dos países párias, que ameaçam a ordem internacional com o apoio ao terrorismo.
O Brasil não aceita o jogo da vilanização, cujo único propósito é reforçar a supremacia de uma superpotência e seus aliados.
O patriotismo é último refúgio dos canalhas. E o antiamericanismo é o penúltimo dos canalhas latino-americanos.
O presidente Lula age como interlocutor de distintos parceiros, com respeito à autodeterminação e mantendo sempre como horizonte estratégico a superação do unilateralismo como caminho único para a paz.
Sem dúvida! Como Chamberlain e Daladier dialogando com Hitler em nome de um mundo mais plural…
A passagem de Ahmadinejad pelo Brasil serviu também para que a comunidade internacional se fizesse ouvida pelo iraniano. E Lula deixou isso claro no encontro.
Claro, o mundo precisa ouvir Ahmadinejad. Precisamos lhe dar o palco para que ele defenda a destruição de Israel (ele não recuou) e para que ele negue o Holocausto (ele não recuou). Com efeito, José Dirceu: se não for Lula a lhe dar tal chance, quem será?
Se o professor escolheu torcer os fatos, não pode alegar desconhecimento de que a principal ameaça à paz mundial é a existência de um mundo unipolar.
O período não faz sentido. Ainda que fosse uma bobagem, o certo seria escrever: “Se o professor NÃO ESCOLHER torcer os fatos…” Afinal, para não “alegar” o desconhecimento — e, pois, expressar o reconhecimento de um ponto de vista que é do próprio Dirceu —, o professor teria de escolher apegar-se àquilo que Dirceu considera os fatos… É uma questão de linguagem e de lógica. Dirceu atrapalhou-se com uma espécie de dupla negação que há em “NÃO pode alegar DESconhecimento”. É coisa típica de uma mente um tanto perturbada, que não consegue distinguir o certo do errado, o bem do mal e, como estamos cansados de saber, o mocinho do bandido. Daí a escolha invariável dessa gente pelo errado, pelo mal… e pelo bandido!
As principais guerras recentes (Iugoslávia, Iraque, Afeganistão) foram produto desse desequilíbrio.
Como é que é? O que tem a “guerra da Iugoslávia” a ver com a do Iraque e com a do Afeganistão? Digamos, para efeitos de pensamento apenas, que a do Iraque tenha sido injustificada. Mesmo no mundo perturbado de Dirceu, a intervenção americana no Afeganistão padece da mesma falta de motivos? E a da Iugoslávia? O Ocidente deveria ter permitido que a limpeza étnica se consumasse, inclusive contra os islâmicos da região? Dirceu não sabe o que diz. Ou, pior, sabe, como demonstra o parágrafo seguinte.
Mesmo o terrorismo islâmico tem como uma de suas razões históricas a hipertrofia dos EUA e do sionismo no Oriente Médio, que condenam o povo palestino a ser uma nação sem Estado, os países árabes a um cerco permanente e o Irã a uma ameaça constante de agressão militar por parte de Israel.
Entenderam? O terrorismo é uma reação à hipertrofia dos EUA e ao sionismo. Assim, entende-se, é preciso antes dar um jeito nessas duas deformações. Segundo Dirceu, é Israel quem ameaça permanentemente o Irã, não o contrário. Agora entendi: os verdadeiros culpados pelos atentados de 11 de setembro foram as próprias vítimas. Quando um terrorista palestino joga foguetes em Israel ou explode um bomba num ônibus ou numa pizzaria, os culpados por isso são os judeus. Faltava-nos esta iluminação: para Dirceu, o terrorismo, que qualquer pessoa decente considera sempre culpado, é inocente quando ataca e quando é atacado.
Os sucessivos acordos de paz fracassados pedem que outros países, como o Brasil, contribuam com uma interlocução positiva no Oriente Médio. Por isso, receber Ahmadinejad foi, sim, uma decisão acertada.
Está dada qual é a”contribuição positiva” que o Brasil tem a dar: apoio ao terrorismo e às ditaduras e censura às democracias americana e israelense. E não pensem que Dirceu fala por si mesmo. Ele vocaliza o pensamento petista. Felizmente, o mundo começou a se dar conta dessa picaretagem. Já percebeu que o Brasil resolveu ter os párias como aliados.
Concluindo
Por que um jornal como a Folha precisa de Dirceu? Respondo como leitor: talvez porque, a exemplo do resto da grande imprensa, o jornal esteja preocupado em demonstrar que é plural e não tem lado. Eis um gigantesco equívoco mesmo segundo esse princípio.
A grande imprensa, entendo, tem mesmo de ser plural, o que, convenham, de hábito, não é. Cadê as vozes críticas à tese do aquecimento global, para citar um exemplo quente? A defesa do terrorismo, no entanto, deve fazer parte da pluralidade aceitável? Quando Dirceu livra os terroristas de suas responsabilidades, ele os defende por vias oblíquas. Acatar tal voz não revela pluralidade, mas concessão à defesa de um crime de lesa humanidade. “Ah, é importante saber o que eles pensam”. Para tanto, ele conta com os seus próprios meios.
Eis aí o verdadeiro PT! O mensaleiro Dirceu, pensando essas porcarias, é hoje um dos principais articuladores da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência.
Com a serenidade possível, sem paranóia, os judeus que vivem no Brasil, brasileiros ou não, devem refletir profundamente sobre as palavras de Dirceu. O anti-sionismo sempre foi um excelente armário para esconder o anti-semitismo. Não ouso dizer que Dirceu seja um anti-semita por convicção porque lhe faltam cultura política e informação mesmo para escolher essa ignomínia. Deve-se prestar atenção às escolhas de um governo, de um partido, de um político. O governo Lula, o PT e José Dirceu escolheram o Irã de Ahmadinejad. E a escolha de Ahmadinejad, como sabemos, é destruir Israel e, por conseqüência, os judeus. É ele quem diz isso, não sou quem lhe atribui tal intenção.
Ah, sim: se judeus há no PT, aí já considero que não seja matéria de política, mas de psicanálise. Cumpre saber a origem psíquica da atração pelo algoz.
imagem:charquinho.weblog