Peleguismo da UNE custa caro aos cofres públicos
Governo Lula já repassou à UNE 11 vezes o total destinado no governo FHC
Giselle Mourão e Milton Júnior Do Contas Abertas
Em 2008, o governo destinou quase R$ 4,5 milhões à UNE, maior cifra desde 1995. Desse valor, 64% foi pago pelo Ministério da Saúde referente a projetos de apoio da educação permanente dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde. Mas foi o Ministério da Cultura que mais aplicou recursos na entidade. Nos últimos sete anos, a pasta foi responsável por 72% do valor total recebido pela UNE. Apenas no ano passado, o órgão destinou mais de R$ 2 milhões para apoiar projetos voltados à produção, divulgação e outras ações ligadas à atividades artísticas e culturais.
Além do incentivo cultural, a entidade representativa dos estudantes também recebeu recursos do Ministério do Esporte. Enquanto ainda estava na função de secretário-executivo, o atual ministro Orlando Silva (PCdoB-SP), que foi presidente da UNE entre 1995 e 1997, assinou um convênio que repassou R$ 199,6 mil, em 2004, para financiar a realização dos 52º Jogos Universitários Brasileiros, realizado em julho daquele ano. Já em 2009, sob a direção dos estudantes Lúcia Stumpf e Augusto Chagas, ambos filiados ao PCdoB, outros R$ 250 mil foram liberados pelo ministério para capacitar gestores de esporte e lazer. Clique aqui para ver o histórico dos repasses à UNE.
Para o cientista político Leonardo Barreto, a independência da UNE “foi toda embora, mas a culpa não é só do dinheiro”. Ele lembra que a entidade sempre esteve ligada a partidos de esquerda, sobretudo o PCdoB, que está no comando da presidência dos estudantes há 15 anos. “Frente a tantos recursos, a UNE passa a se comportar de forma absolutamente submissa, deixando um vazio na representatividade dos estudantes no Brasil. A antiga posição de luta e resistência ficou para trás. Também não se sabe qual é a agenda política dos estudantes”, diz.
Eleições 2010
Reportagem publicada hoje pelo jornal O Globo informa que a UNE discutirá, em encontro realizado até domingo no campus da Univerdidade Federal do Rio de Janeiro do Fundão, a possibilidade de assumir uma posição contrária às políticas do PSDB e até mesmo à candidatura de José Serra neste ano. A eleição do tucano, que presidia a UNE no momento do golpe militar, é classificada como retrocesso pelas correntes reunidas desde ontem no 58º Conselho Nacional de Entidades Gerais. O grupo também debaterá se dará apoio a Dilma Rousseff (PT).
O presidente da UNE, Augusto Chagas, defende a independência da entidade em relação a candidaturas, mas segue a linha de que a União dos Estudantes precisa ter opinião quanto às políticas dos últimos governos. “Não queremos retrocesso em determinadas políticas. A possibilidade de a UNE sentar com o presidente da República para apresentar suas pautas é positiva. Não queremos retroceder a um período que essa capacidade de diálogo não existia”, diz o presidente, ao comparar a relação da UNE com os governos FHC e Lula.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da UNE para saber como a entidade se manifesta sobre os repasses federais e a proximidade com o governo. No entanto, foi informada que os assessores só estariam de volta à redação na próxima semana.
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