Crise econômica dos Estados Unidos dissemina-se para outros continentes
Na noite do último domingo as nações européias procuravam impedir que uma crescente crise de crédito derrubasse bancos importantes e alarmasse os poupadores, enquanto os problemas dos mercados financeiros espalhavam-se pelo planeta, intensificando a desaceleração econômica em grandes economias de três continentes.
No domingo, o governo alemão mobilizou-se para garantir a segurança de todas as contas de poupança particular do país, esperando tranqüilizar os poupadores que ficaram nervosos quando fracassaram as tentativas de resgatar um grande banco de crédito alemão e uma importante companhia financeira européia.
Ainda no domingo, foram anunciados novos planos de resgate financeiro para ambas as companhias, o banco alemão Hypo Real Estate, e a grande empresa bancária e de seguros Fortis, que tem sede na Bélgica, mas atua em todo o continente.
A disseminação das preocupações com a crise ocorre dias após o Congresso dos Estados Unidos ter aprovado um pacote de socorro financeiro de US$ 700 bilhões, que as autoridades norte-americanas esperavam que fosse capaz de acalmar os mercados financeiros globais.
As medidas forma tomadas quando reguladores federais tentavam ajudar a resolver um impasse sobre uma fusão empresarial nos Estados Unidos que poderia intranqüilizar ainda mais os investidores. No domingo foram realizadas em Nova York audiências no âmbito do Judiciário a respeito das iniciativas do Citigroup e do Wells Fargo para adquirir o Wachovia, um banco de grande porte que quase faliu uma semana atrás.
Enquanto isto, na Europa, a crise parece ser a mais séria que o continente enfrenta desde a criação de uma moeda comum, o euro, em 1999. Jean Pisani-Ferry, diretor do grupo de pesquisas Bruegel, em Bruxelas, afirmou: “A Europa depara-se com a nossa primeira crise financeira real. E não se trata de uma crise qualquer. É uma crise enorme”.
O Banco Central Europeu tem concedido agressivamente empréstimos aos bancos à medida que a crise aumenta. Ele vem resistindo às pressões para reduzir as taxas de juros, mas na última quinta-feira indicou que em breve poderá reduzi-las. Estes montantes extras, cujo objetivo é assegurar que os bancos contem com acesso adequado a capitais, não tranqüilizaram poupadores e investidores, e os mercados de ações europeus têm acusado um desempenho ainda pior do que os norte-americanos.
Na Islândia, autoridades governamentais e banqueiros discutiam um possível plano para o resgate dos bancos comerciais do país.
Em Berlim, a chanceler Angela Merkel e o ministro das Finanças, Peer Steinbrueck, falaram na televisão, prometendo que todos os depósitos bancários serão protegidos, embora não esteja claro se haverá necessidade de uma legislação para que se cumpra essa promessa.
Preocupada com a crescente indignação popular devido ao uso de dinheiro público para salvar os negócios de banqueiros que têm lucros enormes, Merkel prometeu que estes banqueiros também terão que se explicar. “Estamos afirmando também que aqueles que se engajaram em um comportamento irresponsável serão responsabilizados”, afirmou a chanceler. “O governo garantirá que isso ocorra. É uma conta que devemos prestar ao contribuinte”.
Na segunda-feira, as bolsas de valores caíram drasticamente na Ásia, devido aos temores cada vez mais intensos quanto à saúde dos bancos europeus e à capacidade da economia global de suportar a crise. Em Tóquio o índice Nikkei 225 caiu 3,4%, em Seul o índice Kospi sofreu uma queda de 3,7% e em Sydney o índice Standard and Poor’s/Australian Stock Exchange 200 recuou 3,3%.
Os acontecimentos em Berlim e Bruxelas evidenciaram o fracasso da abordagem européia de enfrentar cada caso individualmente para restaurar a confiança no setor bancário do continente, cada vez mais abalado. Uma reunião européia de cúpula na noite do último sábado em pouco contribuiu para reduzir as preocupações.
O presidente Nicolas Sarkozy, da França, e os seus congêneres da Alemanha, do Reino Unido e da Itália prometeram que impediriam uma bancarrota no estilo do Lehman Brothers na Europa, mas não apresentaram um amplo pacote de socorro financeiro como o norte-americano.
A crise em ascensão vem expondo as dificuldades para se adotar uma ação conjunta na Europa, já que as economias do continente são bem mais integradas do que as suas estruturas nacionais de governo.
“Não somos uma federação política”, afirmou durante a reunião Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu. “Não temos um orçamento federal”.
Na semana passada a Irlanda mobilizou-se para garantir a segurança dos depósitos e outros ativos de seis grandes bancos. Houve queixas em Londres e em Berlim devido à concessão de uma vantagem injusta àqueles bancos. Mas no domingo a Alemanha propôs a sua própria iniciativa para garantir a segurança dos depósitos, depois que o Reino Unido elevou o patamar de suas garantias de £ 35 mil para £ 50 mil, o que equivale a quase US$ 90 mil.
Ao contrário dos Estados Unidos, onde os depósitos até US$ 250 mil contam com garantias totais - até a semana passada este limite era de US$ 100 mil -, os depósitos na maioria dos países europeus só contam com uma garantia parcial, em certos casos por parte de grupos de bancos, e não pelos governos. Na Alemanha, o cliente conta com um seguro para 90% do valor de depósitos até ? 20 mil, ou cerca de US$ 27 mil.
Da reunião de Paris saiu a promessa de que os líderes europeus trabalharão conjuntamente para conter a crise financeira e tranqüilizar investidores nervosos, mas antes mesmo do início da reunião ficava cada vez mais claro que os dois pacotes de resgate anunciados na semana passada não surtiram efeito e que um grande banco italiano, o Unicredit, poderia estar em apuros. No domingo o banco anunciou planos no sentido de levantar um capital de até ? 6,6 bilhões, ou US$ 9 bilhões.
O Fortis, que na semana passada recebeu ? 11,2 bilhões dos governos holandês, belga e luxemburguês, foi incapaz de continuar operando. Na sexta-feira passada, o governo da Holanda assumiu as operações do banco no país, e no final da noite de domingo o governo belga mobilizou-se para ajudar o banco francês BNP-Paribas a adquirir o que restou da companhia.
Há uma semana, em Berlim, o governo alemão articulou-se para fazer com que bancos importantes emprestassem ? 35 bilhões ao Hypo, mas a iniciativa fracassou quando as instituições bancárias concluíram que seria necessário mais dinheiro. No final da noite do domingo o governo da Alemanha anunciou a elaboração de um pacote de ? 50 bilhões, do qual participariam tanto o governo quanto outros bancos.
A crise de crédito teve início nos Estados Unidos, um fato que fez com que os políticos europeus alegassem que os sistemas financeiros dos seus países seriam superiores, contrastando com aquilo que o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi chamou de “capitalismo especulativo” dos Estados Unidos. No sábado, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown afirmou que “a crise veio dos Estados Unidos” e Berlusconi denunciou a falta de ética empresarial que foi exposta pela crise.
Grande parte dos problemas dos bancos europeus foi provocada pelos empréstimos de má qualidade na Europa, e um dos motivos pelos quais o Fortis viu-se em apuros foi o fato de ter tomado dinheiro emprestado para adquirir uma grande empresa. Mas as atividades nos Estados Unidos também desempenharam um papel na crise européia. No domingo os banqueiros europeus afirmaram que a necessidade adicional de fundos por parte do Hypo deveu-se a garantias que a instituição emitiu como seguro para os títulos municipais norte-americanos que ela vendeu a investidores.
As preocupações que assolam o mercado de crédito somam-se aos temores crescentes em relação à queda do crescimento econômico na Europa e nos Estados Unidos. Muitos economistas acreditam que existem recessões nas duas áreas geográficas, mas uma outra recessão parece ter começado também no Japão, onde na segunda-feira o jornal “Nikkei” anunciou que, segundo uma pesquisa de opinião, 94% dos integrantes de um grupo de executivos de grandes corporações acham que a economia do país está se deteriorando.
“A menos que haja uma flexibilização das condições para a concessão de crédito, será difícil que tão cedo a demanda volte a subir”, advertiu Bob Elliot, da firma norte-americana de gerenciamento financeiro Bridgewater Associates.
Em meio à aprovação pelo Congresso dos Estados Unidos do pacote de resgate financeiro dos bancos no valor de US$ 700 bilhões, passou quase despercebida uma garantia de US$ 25 bilhões em empréstimos às companhias automotivas norte-americanas, que estão vivendo momentos difíceis. No domingo as fabricantes européias de automóveis anunciaram que procurarão obter uma ajuda similar da Comissão Européia.
Henry M. Paulson Jr., o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, esperava que a aprovação do pacote de socorro norte-americano, que prevê a compra de securities de bancos por um preço superior aos valores atuais de mercado, fizesse com que o crédito voltasse a ser disponível ao disponibilizar dinheiro para os bancos para que estes concedessem empréstimos e ao tranqüilizar os integrantes dos mercados de crédito.
Mas na semana passada isto não ocorreu. Em vez disso, os créditos ficaram mais caros e difíceis à medida que os investidores relutavam mais em mais em comprar papéis comerciais, que essencialmente são empréstimos de curto prazo às companhias. As taxas de juros que incidem sobre tais empréstimos subiram tão rapidamente que alguns temeram que esse mercado pudesse praticamente fechar, deixando a concessão de créditos de curto prazo a empresas a cargo dos já abalados bancos.
A necessidade de ações rápidas por parte da Europa é em parte um legado de uma decisão no sentido de criar o euro, atualmente utilizado por 15 países, que não foi acompanhada de um sistema paralelo de regulação para além das fronteiras nacionais e de fiscalização dos bancos privados.
“Primeiro tivemos a integração econômica, e depois a integração monetária”, afirmou Sylvester Eijffinger, membro do comitê de especialistas monetários que assessora o Parlamento Europeu. “Mas jamais criamos o paralelo político e a integração reguladora que nos teriam permitido enfrentar uma crise como a atual”.
Em Bruxelas, Daniel Gros, diretor do Centro de Estudos de Políticas Européias, concordou: “Talvez eles sejam obrigados a pensar de forma mais estratégica, em vez de correrem atrás dos acontecimentos. Quando mais tarde se age, maior a conta a ser paga”.
Embora o Banco Central Europeu tenha poder para controlar as taxas de juros e as políticas monetárias mais amplas, não foi delegado a ele um poder semelhante de fiscalização dos bancos privados. Esta tarefa ficou a cargo de dezenas de reguladores em toda a Europa.
Esta colcha de retalhos inclui bancos centrais nacionais de cada um dos 15 países membros da zona do euro, e eles ainda contam com amplos poderes dentro das suas fronteiras, o que complica ainda mais qualquer abordagem de âmbito regional no sentido de resolver o problema.
O cenário econômico europeu de hoje é bem diferente daquele da década de 1990, quando foi criado o projeto do euro. Pisani-Ferry recorda-se que àquela época poucos bancos na Europa mantinham operações além das fronteiras nacionais em uma escala significativa.
Foi uma onda de fusões no decorrer da última década que criou gigantes como o HSBC e o Deutsche Bank, que atuam em vários países e continentes, e que têm grande destaque nos Estados Unidos.
“A transformação do cenário bancário europeu ocorreu bem recentemente”, afirmou Pisani-Ferry. “Quando o euro foi introduzido, a questão de regulação além das fronteiras nacionais não surgiu”.
Os otimistas dizem que um potencial benefício de longo prazo dos problemas atuais é o fato de que muitas vezes uma crise é necessária para estimular a integração européia.
“O progresso na Europa geralmente é o resultado de uma crise”, explicou Eijffinger. “Este pode ser um destes raros momentos na história da União Européia”.
Foto:Mantega e Meirelles
3 Comments:
ninest123 16.03
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